Balanço Financeiro 2017, o Grêmio faz história também fora de campo

Se os resultados dentro de campo foram excepcionais em 2017 , com a conquista do tricampeonato da América e a volta ao Mundial de clubes, fora de campo o Grêmio não deixou por menos. O Balanço Financeiro da temporada passada revelou melhorias significativas rumo ao equilíbrio das contas do clube, com um resultado histórico e que representa muito bem a consolidação do Grêmio no cenário brasileiro e da América do Sul.

Ao contrário do Balanço de 2016, que não trazia grandes motivos para comemorações e não refletia ainda a melhora do clube na geração de receitas ordinárias, o atual resultado demonstra um crescimento real do clube em várias receitas. As ótimas notícias são, por exemplo, a redução da dependência das receitas de TV, aumento de receitas patrimoniais e publicitárias, vendas recordes de atletas, resultado histórico da loja Grêmio Mania, redução das despesas financeiras (não ocorria desde 2011) e redução da dívida total (não ocorria desde 2008). Os detalhes mostramos abaixo.

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Balanço 2017 (Fonte: Grêmio FBPA)

 

 

Negociações de atletas

De cara chama a atenção o forte aumento das receitas de vendas de jogadores em 2017, recorde histórico do clube, com R$ 76,7 milhões arrecadados (o maior resultado era ainda o de 2007, com R$ 52,8 milhões arrecadados com os negócios de Lucas Leiva e Carlos Eduardo). Contribuíram para isto principalmente, as vendas de Walace e Pedro Rocha, que estão inclusive entre as 5 maiores vendas do clube.

Há anos o Grêmio penava para turbinar suas receitas com vendas de atletas, fazendo negócios ruins e apressados com os talentos das categorias de base, sem conseguir valorizar seu patrimônio à altura do potencial dos atletas. Pressionado pelas dívidas históricas e pelo limitado fluxo de caixa o Grêmio se desfazia de seus talentos nas primeiras propostas recebidas e não mantinha os garotos no clube a tempo de darem o retorno desportivo. Assim o clube vendia os jovens rapidamente, não conquistava títulos, fazia reposições mais caras e não conseguia pagar suas dívidas, perdendo uma geração de bons jogadores por baixos valores.

Felizmente este círculo vicioso começou a mudar na gestão Romildo Bolzan, com a valorização crescente da base. Os salários das promessas foram reajustados, contratos passaram a ser renovados com maior prazo e houve inclusive aumento de direitos econômicos em favor do Grêmio. Tudo na tentativa de manter os destaques da base por mais tempo no clube, para darem o retorno com títulos, antes de se valorizarem e serem  então negociados por valores mais justos.

Isto favoreceu o florescimento desta estrutura de elenco vencedora, onde a gurizada tem papel de destaque dentro do campo e serve como garantia de um clube mais forte. No Balanço 2018 devem entrar os valores da venda recorde de Arthur (ao menos parte dos € 39 milhões), o que dá uma boa ideia de um forte resultado também na próxima publicação.

Quadro Social, a resposta para crescer

Outro golaço da gestão Bolzan é o aumento recorde do Quadro Social. Logicamente há a influência dos resultados em campo, que desde 2016 catapultaram as associações do clube, até o recorde de 91.348 sócios adimplentes no final de 2017. No Balanço, o impacto foi uma receita recorde de R$ 66,2 milhões, aumento de 25,1% em relação a 2016. Um incremento tão forte só havia acontecido em 2012, com 40,1% em relação às receitas de 2011, muito influenciado pelo aumento do valor das mensalidades e da migração de sócios para a Arena.

Vendas Grêmio Mania

O boom de novos sócios, a maior exposição do clube trazida pelo sucesso em campo e o aumento de público em jogos decisivos na Arena trouxe também o crescimento das vendas da loja Grêmio Mania, até um resultado recorde de R$ 6,8 milhões (85,9% maior que em 2016).

O que decepcionou foi o resultados dos royalties da marca, que caíram 4,5% em relação a 2016 e não acompanharam o sucesso recente do clube. Mesmo assim, somadas as vendas da Loja com os royalties tem-se um bom resultado comercial de R$ 18,6 milhões. Infelizmente ainda fica abaixo do recorde de R$ 19,3 milhões obtido em 2012, sob influência do último ano de operação do Olímpico e a maior presença da torcida nas ações do clube.

Publicidade em destaque

Outro ponto que merece destaque foi o aumento na rubrica de publicidade, com expressivo crescimento de 48,2% em relação a 2016. Nesta área não havia crescimento tão grande desde 2014, quando o novo contrato de fornecimento da Umbro impactou num crescimento de 71,7% das receitas.

Fica difícil desvendar os motivos deste crescimento em 2017 pois o Balanço traz poucos detalhes. Os contratos maiores do clube não foram oficialmente renovados e o aumento deve ter vindo de outras fontes. Houve novas receitas em 2017 com os patrocínios da iPlace e do Laghetto Hotéis, por exemplo.

  • Umbro – contrato de 2014 a 2018, R$ 17 milhões/ano
  • Banrisul – contrato de 2015 a 2019, R$ 13 milhões/ano
  • Laghetto – contrato de 2017 a 2019, R$ 5,5 milhões
  • iPlace – contrato de 2017, renovado em 2018

Redução da dependência da TV

O aumento em todas estas receitas operacionais acabou por reduzir a influência das receitas de transmissão sobre o bolo total. Se em 2016 a TV representava preocupantes 46% sobre a operação em 2017 o valor caiu para 37% das receitas.

Isto demonstra um crescimento real do clube em geração de receitas alternativas, como marketing e o relacionamento com o torcedor. Reduzir a influência dos valores da TV representa um poder maior de barganha do clube em negociações futuras de contratos.

Apesar da queda de representatividade da TV sobre o bolo total arrecadado esta rubrica também teve aumento dos valores em 2017. Parte disto se deve ao novo contrato do Gauchão e à grande arrecadação de cotas de TV na Libertadores, mas também ao incremento com novos valores da finada Primeira Liga. No total a TV gerou R$ 126,3 milhões, aumento de 18,9% sobre 2016:

  • Brasileiro – R$ 94,3 milhões (+15,4% de aumento)
  • Libertadores – R$ 14,5 milhões (+61,4%)
  • Gauchão – R$ 12,0 milhões (+ 86,7%)
  • Copa do Brasil – R$ 3,6 milhões (-59,3%)
  • Primeira Liga – R$ 1,7 milhões

Em 2018 as receitas de TV podem ser influenciadas fortemente pelo prêmio da Copa do Brasil, que traz embutido as novas cotas de TV da competição. Fora isso será difícil crescer ainda mais em relação a 2017.

Resultado operacional sustentável

Com os incrementos nestas receitas o clube demonstrou um aumento de 49,2% no total de receitas operacionais em relação a 2016, atingindo os R$ 341,3 milhões. O Grêmio é 6º clube brasileiro que mais arrecadou em 2017 (milhões):

  • Flamengo – R$ 648,7
  • Palmeiras – R$ 503,7
  • São Paulo – R$ 480,1
  • Corinthians – R$ 391,2
  • Cruzeiro – R$ 344,3
  • Grêmio –  R$ 341,3

Já os custos operacionais cresceram em menor ritmo, de 31,5%, para um total de R$ 250,2 milhões. O Grêmio é 5º clube brasileiro que mais gastou na operação em 2017 (milhões):

  • Palmeiras – R$ 368,5
  • São Paulo – R$ 354,8
  • Flamengo – R$ 351,7
  • Corinthians – R$ 278,0
  • Grêmio –  R$ 250,2

O resultado final entre as receitas e os custos operacionais foi outro recorde histórico do Grêmio, de R$ 91,1 milhões. Ou seja, o Grêmio voltou a ser sustentável na sua principal função. Tem resultados em campo e possibilita o crescimento para anos seguintes. A relação custos/receitas operacionais caiu ao menor nível desde 2012, para 73,3%.

Gráfico 1
Receitas x Custos operacionais (Fonte: Artilharia Gremista)

 

Receitas extraordinárias

O Balanço de 2016 trouxe um resultado positivo (superávit) de R$ 35,3 milhões, mas estava fortemente impactado pelos valores de luvas do novo contrato de TV (2019/2024), assinado com a Globo naquele ano. Um total de R$ 96,2 milhões entrou como receita extraordinária de luvas em 2016, tornando o superávit um tanto enganoso e mascarando a menor geração de receitas ordinárias (vendas, comerciais, publicitárias, sociais e de transmissão).

Em 2017 o clube lançou um valor menor em receitas extraordinárias, de R$ 23,3 milhões em despesas recuperadas, o que torna o resultado final do exercício um pouco mais real. Assim o clube reduziu a participação das receitas extraordinárias sobre o bolo total de receitas de 30,8% em 2016 para apenas 6,4% em 2017. Isto representa uma melhor previsibilidade nas contas do clube, que pode ajustar os seus custos conforme o que gera de receitas normais, sem depender de valores incomuns para fechar sua conta.

Há quem considere os R$ 76,8 milhões arrecadados em vendas de atletas também como receitas extraordinárias. Porém, no mercado Brasileiro, isto já virou parte comum da vida dos clubes, praticamente como se fossem receitas esperadas ou ordinárias para a sobrevivência deles.

Despesas financeiras altas, mas controladas

O ponto mais preocupante do Balanço segue sendo as altas despesas financeiras do clube, em função do serviço da dívida, pagamento de juros e despesas bancárias. Os valores fecharam 2017 em R$ 56,5 milhões. Ou seja, 16,6% de tudo o que o Grêmio arrecadou no futebol foi para cobrir estas despesas. O valor é maior, por exemplo, do que os R$ 45 milhões gerados pela venda de Pedro Rocha. Não por acaso o clube depende de ao menos uma venda de atleta por ano, basicamente par cobrir este rombo anual.

Se o valor das despesas financeiras assusta pelo menos parece estar controlado. Melhor ainda, após 6 anos de seguidos crescimentos, finalmente houve uma redução nestas despesas, de 2,9% em relação a 2016. A última vez que isto havia acontecido foi em 2011 e desde então estes custos explodiram até os valores atuais.

O valor da dívida financeira, fruto de empréstimos buscados junto ao BMG e Banrisul para melhorar o fluxo de caixa, também caiu. A redução foi de 3,8% em relação a 2016, para R$ 80,4 milhões em dívidas financeiras. Após os fortes aumentos desta dívida em 2013 e 2015 parece que finalmente os valores estão estabilizados, tendo uma pequena redução por 2 anos seguidos, desde 2016.

 

Dívida em queda

Assim como a dívida financeira, houve queda também na dívida total do clube, algo raro nos últimos anos e que havia acontecido pela última vez em 2008. A dívida total caiu 0,33% para os atuais R$ 470,6 milhões. O maior benefício aqui foi reduzir mais a dívida de curto prazo e passá-la para longo prazo, o que dá maior fôlego no fluxo de caixa do clube.

Outro ponto impactante do Balanço está na melhoria significativa do Índice de Dívida/Receita ou Índice de endividamento. Em 2017 o Grêmio teve uma receita ordinária de R$ 349 milhões (operacional + financeira), o que frente à dívida do clube de R$ 470,6 milhões, reduziu o índice de endividamento a 1,35. Em 2016 o índice estava em 1,96, ou seja, na época o Grêmio precisa de praticamente 2 anos de faturamento para cobrir toda a sua dívida.

A transparência precisa aumentar

O Grêmio vem nos últimos anos aperfeiçoando o seu Balanço, para abranger mais detalhes e trazer mais explicações sobre a situação do clube. É nítida a melhora em relação às publicações mais antigas e é necessário valorizar que o Balanço venha com um extenso e explicativo parecer do Conselho Fiscal. Os comentários incluem até mesmo questões conturbadas, como os acordos com Victor e Kléber, além das dívidas em aberto com a Arena e o parceiro Celso Rigo. Entretanto, é estranho que o clube tenha optado por suprimir do Balanço a divulgação dos percentuais de direitos econômicos sobre seus atletas profissionais e em formação.

Isto vem contra a ideia de transparência nas negociações e contra o que o clube já vinha adotando em Balanços de anos anteriores. Inclusive o Grêmio deveria avançar para divulgar oficialmente não só os direitos econômicos, mas também os custos/receitas envolvidos nas negociações dos atletas. Ultimamente está difícil de citar o Inter como referência em qualquer esfera, mas ao menos neste ponto estão mais avançados que o Grêmio, ao divulgarem mais abertamente os valores de negócios de atletas.

A bola não entra por acaso

A frase já virou clichê no futebol, mas segue verdadeira. Os resultados positivos obtidos desde 2016, com a reconquista da Copa do Brasil, seguida da Libertadores em 2017 e da Recopa e Gauchão 2018, são reflexo de uma gestão que tem buscado a organização e a evolução do clube. Isto precisa ser valorizado fortemente pela torcida gremista, pois explica perfeitamente o sucesso obtido dentro de campo.

Somente através da sequência deste trabalho estruturante, da profissionalização e de uma gestão baseada em processos e não em pessoas é que o clube poderá manter-se em alto nível e competitivo, como tem feito. Basta vez onde foi parar o rival local, quando optou pelo amadorismo e o descontrole na sua gestão.

Vida longa ao Grêmio que planeja, executa e atinge seus objetivos. Raros foram os momentos na história do clube em que se observou momento tão positivo, digno de orgulho aos gremistas dentro e fora de campo. O Grêmio é e está cada vez mais forte!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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